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domingo, 13 de abril de 2014

Quando o coração desincha

Depois de mais um dia de tristeza infinda, começava a achar que as lágrimas que derramava estavam chegando ao fim. Não conseguia entender como tinha forças para chorar tanto o choro de seu coração partido, como ainda conseguia sentir o gosto já tão conhecido das lágrimas salgadas. Lá fora, caía uma chuva fina que vinha acompanhada de um frio cortante, que ela nem conseguia aproveitar como gostava de fazer — com um bom vinho, ou um capuccino —, pois tudo isso lembrava aquele que partira há algum tempo e que a deixara tão machucada.
E assim iam-se os dias. Ainda chorava, ainda soluçava, mas sentia que aos poucos a ferida ia se fechando. Deixaria uma cicatriz, como cada marca feita no corpo, seja ela feita ou na pele, ou dentro dele, mas com o tempo esqueceria a dor. Assim pensava. Assim desejava.
Pensando e sentindo assim, foi se dando conta de que o normal era mesmo este: que o coração se desvanecesse em lágrimas. É que, quando se amava, ele inchava, de amor, de alegria, de felicidade, de desejo. Contudo, se esse amor não perdurava por qualquer motivo, era preciso que diminuísse. Então, as lágrimas saíam pelos olhos e levavam junto todos os sentimentos que o coração havia guardado consigo durante o tempo em que estivera amando, mesmo que esses sentimentos não tivessem sido correspondidos. Os dela haviam sido, pelo menos pensava que sim, mas seu fim tão brusco trouxera uma dor inominável. Ela continuava seu dia a dia, no entanto.
Dia após dia, assim, esperando o coração desinchar, ela ia se recuperando. As lágrimas iam ficando menos frequentes, a dor ia passando, e seu coração, que antes ocupava um lugar enorme no peito, agora voltava ao tamanho normal.
Até o dia em que ele recebesse de novo a carga de sentimentos em virtude de outro amor. Correspondido ou não.