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domingo, 9 de fevereiro de 2014

Desintoxicando

Queria poder dizer que nessa última semana longe do Facebook eu li mais livros, vi mais filmes, encontrei mais os amigos. Nada disso aconteceu. Eu me concentrei, sim, mais no meu trabalho, mas isso não é relevante, pois querendo ou não tenho de fazê-lo. Meu tempo longe da principal rede de interação "social" teve outro ganho.
Quando decidi desativar por um tempo a página, num sábado vindo de uma semana estressante e com acontecimentos que me deixaram bastante chateada, dentro e fora da rede, eu queria experimentar esse lugar fora. Fechar a porta da sala redonda e ficar em frente a ela, sem abri-la. Achei que nos últimos dias o tempo na rede, em discussões, curtidas e comentários muitas vezes infrutíferos, estava consumindo um tempo precioso: aquele dedicado a mim.
Confesso que ativar aquele botãozinho e receber a mensagem chantagista de que Fulano e Sicrano "vão sentir sua falta" se você sair foram um desafio excitante. Para quem não sabe, a página faz isso com seu usuário: avisa-o de que fará falta a seus amigos, e isso soa quase que como uma ameaça. Como adoro desafios, fiz o que eles não queriam que eu fizesse, pensando: "Será que vão mesmo?"
Sim, algumas pessoas sentiram minha falta. Entre mensagens diretas por outros meios (Twitter, que continuei usando, WhatsApp, e-mails, telefonemas...) e indiretas dadas por outras pessoas, espantaram-se com minha ausência, coisa que meu ego, devo confessar, agradeceu. Me senti querida, e por isso devo agradecer a esses amigos. ♥ Vocês são uns fofos! Realmente, saber que nossa ausência é mesmo notada faz bem, acho que todo mundo concorda.
Mas não foi isso que eu queria testar ao desativar meu perfil. Queria encontrar novamente minha solidão. Não aquela que sentimos quando estamos sem um companheiro, amoroso ou não, mas a que temos conosco desde que nascemos até ao irmos embora, sabe-se lá Deus para onde, deste mundo insano. Queria sentir esse medo e essa ausência de algo que sentimos todo o tempo e que muitas vezes mascaramos com amores tóxicos, compras excessivas, drogas, futilidades mil, barulhos, barulhos e mais barulhos. Aquela que nos toca profundamente e que faz a maioria de nós procurar desesperadamente a outra metade da laranja e jogar sobre ela toda a nossa carência. Aquela que nos faz ter medo de ficarmos com a única pessoa que nos faz companhia todo o tempo: nós mesmos. Estava sentindo falta dela. Porque existe outro elemento, nesta era em que vivemos, que a mascara: as redes sociais. A incrível sensação de estarmos cercados de pessoas, mesmo quando estamos sozinhos em um computador. Isto não é um problema: estar numa rede social na web e interagir. O problema é a compulsão por interagir. Por postar tudo. Por saber de tudo. Por se fazer presente por meio de fotos, comentários, postagens, curtidas, todo o tempo, de manhã à noite, mesmo quando estamos num bar com amigos. Algumas pessoas, segundo pesquisa recente que vi comentada em um programa de TV, não largam as redes pelo celular nem mesmo quando estão fazendo sexo! Sim! Não consegui entender muito bem como pode uma coisa dessas acontecer, mas acho que é revelador do quanto estamos, talvez, doentes. A porcentagem de pessoas que não estão presentes para o outro nem durante o sexo é grande, segundo a pesquisa. Confissão: depois do espanto veio o medo.
Não sou dessas. O celular é, para mim, um instrumento de comunicação e atualmente de entrada no mundo virtual, sim, mas me dou o direito de mantê-lo sem som quando durmo, não o deixo ligado em eventos e ambientes em que deve estar desligado, como cinemas, teatros e reuniões, não o levo para o banheiro (juro: algumas pessoas já me mandaram mensagens dizendo que estavam ali, melhor não saber fazendo o quê), e, o mais importante, evito ao máximo, o quanto posso, ficar na rede quando estou em um encontro com amigos, principalmente se estiver a dois, ou a duas. Porque não há nada mais desagradável que não dar nem receber atenção do outro que está ali com você. Sim, sou chata. Sei disso. Sou antiga. Ponto.
Mas voltando à solidão: precisava senti-la, desconectar, desintoxicar. Sentir o vazio que se sente quando não se tem com quem interagir. Sentir minha respiração. Deixar a cabeça voar. Pensar no que quero para mim. E descobri que o que quero e o que devo fazer é isto: voltar, sim, para as redes, que infelizmente são imprescindíveis para mim, em função do trabalho e das pessoas com quem convivo, mas me dar o direito de sair delas quando quiser. Ser menos presente, talvez? Não sei. Principalmente isto, com certeza: a vida aqui fora precisa de atenção. E gostei de perceber isso. Porque os principais momentos, os mais importantes e lindos da minha vida e da vida de qualquer pessoa não são passados em uma rede social. E não devem ser compartilhados.
Acho que é isso.

4 comentários:

  1. Muito profundo o seu texto, Débora, e pleno de sentido. Mais pessoas pudessem perceber a importância desse contato consigo mesmas, de se liberarem dessa espetacularização da vida... Ah, como seria bom!
    Concordo em gênero, número e grau com essas palavras:
    "Porque os principais momentos, os mais importantes e lindos da minha vida e da vida de qualquer pessoa não são passados em uma rede social. E não devem ser compartilhados".

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  2. Kyanja, querida, como é difícil sairmos desse turbilhão de exposição pessoal, nós, que temos as redes como instrumento de trabalho. As amizades, estas podem ser mantidas de outra forma, mas quando precisamos estar logados para crescer profissionalmente, dosar essa exposição que sempre acontece é muito difícil. Estava me sentindo esvaziada. Não quero isso para mim. :) Obrigada pelas palavras carinhosas.

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  3. Amei seu texto, Débora, e me fez pensar na minha situação perante as redes. Eu me angustio por ser aquela quase inexistente, a que nunca posta, a que não consegue ficar on com certa frequência em rede nenhuma. Já tentei ser mais presente várias vezes; não tem jeito, então resolvi que vou fazer parte das redes, mas sem o compromisso de entrar sempre. Mas meu caso é diferente, pois não as tenho como instrumentos de trabalho. Um beijão, e aproveite seus momentos consigo mesma e com quem lhe quer bem.

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  4. Kátia, não se angustie. Essa presença excessiva nas redes mascarada de modernidade é doentia. Se o tempo on lhe rouba tempo com as pessoas aqui fora, tem algo de muito errado. Uma vez conheci um casal que se vangloriava de se comunicar em casa pelo computador, cada um em um cômodo. Pode até ser divertido se não for uma constante. Lembro que fiquei muito assustada. Eu, do meu lado, prefiro manter meus olhos atentos e deixar minhas barbas de molho. Não quero esquecer o calor humano verdadeiro. Não quero mascarar minhas angústias com a ilusão da felicidade facebookiana. São coisas em que pensei muito no último fim de ano, em vista da observação do comportamento de algumas pessoas. Você está saudável. Mantenha-se assim. Um beijo. Obrigada pelo comentário. ;-)

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