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domingo, 25 de dezembro de 2011

Lego para uma nova era


Todo mundo que já está com certa idade - que é melhor não precisar - já teve, ou já quis ter, algumas peças de Lego. Infelizmente, apesar de fazer parte dessa geração, eu nunca tive o brinquedo, porque sempre foi muito caro. No meu caso, tive o pino mágico, que não deixava de ser delicioso de montar também.
Mas o incrível é que o Lego que conhecemos já não é mais o mesmo. Como tudo hoje em dia, se adaptou à nova era, exatamente a de Aquário, aquela que é inovadora nas comunicações entremundos e na interação entre eles. Pois é, descobri, encantada, que a Lego disponibiliza um programa chamado Lego Design, que pela interface suponho que pertença à Adobe, que possibilita ao usuário construir maquetes de brinquedos, ou melhor, criar brinquedos novos. O programa, ao longo do processo, vai criando junto um manual do brinquedo novo. Isso seria somente legalzinho se não fosse isto: pode-se enviar o brinquedo criado para o site da Lego que ela o disponibiliza na Internet, com preço e tudo! Se determinado número de pessoas se interessar em montá-lo, a Lego cria materialmente o brinquedo e o criador original recebe uma porcentagem! Na hora eu pensei que para eles deve está sendo ótimo ter brinquedos novos sem precisar pagar um designer profissional para isso. Essa é a parte realmente perversa. Mas, por outro lado, possibilita a crianças em desenvolvimento colocar a imaginação para funcionar e ainda saber que se pode ganhar dinheiro com a própria criatividade! Isso é o máximo!
O novo Lego, chamado Lego City, que eu não conhecia, não tem peças básicas como as da foto acima, mas traz verdadeiras estruturas supercriativas, como é o caso de uma nave de combate inimiga do filme Guerra nas Estrelas, pela bagatela de 500 e poucos reais. Não preciso nem dizer que minha criança gritou dentro de mim querendo aquela caixa. :-D

O interessante é que professores de robótica de escolas de ensino médio estão usando os brinquedos e o próprio programa da Lego para ensinar aos alunos as primeiras noções de robótica. Eles aprendem a montar estruturas seguindo um manual, mas tendo que descobrir quais peças são as que devem ser utilizadas. Haja raciocínio lógico e matemático! É claro que estou falando das aulas de um colégio particular, e a bem da verdade de um colégio específico, que por acaso foi onde cursei o segundo grau. Não acredito que isso tenha chegado, ou chegue, às escolas públicas, o que é realmente uma pena... De toda forma, é bom saber que algumas escolas, boas escolas, estão se preocupando em cuidar desses alunos a partir do meio em que eles estão inseridos. Sei que tem muita gente que demoniza a tecnologia, mas em um país em que a educação é tão precária e que os avanços tecnológicos não acontecem por falta de profissionais interessados e capacitados, em que faltam engenheiros, matemáticos, físicos, é bom saber que algumas crianças em torno de 10 anos estão sendo estimuladas na sua força criativa. Assim, além de profissionais de ciências humanas, que são extremamente importantes, teremos outros que irão além de simplesmente responder a e-mails ou usar as redes sociais. Que saberão que sua criatividade pode ser lucrativa, e por que não ganhar dinheiro com isso?
Esta nova era me surpreende a cada momento. Posso dizer que amo tecnologia, apesar de ter escolhido uma área oposta. Mas, mesmo do outro lado, procuro não ficar tão fora do que está rolando. Porque é realmente o máximo toda essa interação com gente e empresas e estudantes que nunca vimos ou que talvez nunca vejamos. Mas, que importa? Quem amamos está sempre ao nosso lado. Por que não podemos dar uma voltinha do outro lado do mundo e aprender um pouquinho através do mundo virtual? Isso é fantástico! Só lamentei não poder ter crescido inserida nesse mundo. Mas dá para correr atrás, não dá? Tentar ficar atenta e prestar atenção no que está rolando?
Só sei de uma coisa: não vou ser uma velhinha sentada em uma cadeira de balanço sem saber como lidar com um mundo completamente novo e diferente do seu na época em que era ativa. Posso até usar uma cadeira de balanço, mas ela será motorizada e eu terei acesso direto à Internet, ou a algo similar que pode surgir, no meu dia a dia. Porque eu sou do meu tempo. E o meu tempo foi ontem, mas também é hoje e será amanhã. É ou não é?


sábado, 24 de dezembro de 2011

Privado x Público

Estamos vivendo mesmo uma época singular. Para além das relações líquidas analisadas por Bauman ou da sociedade de controle que outros discutem, o que vemos é uma verdadeira quebra da dicotomia público/privado. Não sei se as pessoas nunca realmente souberam como usar o espaço público ou se essa falta de respeito pelo outro está sobressaindo demais em função das novas tecnologias, só sei que é assustador precisarmos o tempo todo gritar que nosso espaço está sendo invadido.
Há uns oito anos mais ou menos, no início do boom dos celulares e, claro, da adaptação a eles, fui à Sala Cecília Meireles assistir a um concerto do grupo brasileiro Uakti (http://www.uakti.com.br/), um grupo de percussão espetacular, com raras apresentações. Uma amiga que trabalhava na Sala na época havia conseguido dois ingressos para mim. Eu estava ansiosa. Pois é, mas tudo seria perfeito se não fosse um sem-noção sentado atrás de mim. O celular tocou a primeira vez; ele atendeu. Tocou a segunda; ele atendeu. Eu de levemente rosada já estava ficando vermelha, de raiva. Na terceira, não aguentei, virei para trás e disse que ele não podia atender o celular, que aquela era uma sala de espetáculo. Detalhe: eu estava sentada na segunda fila; o energúmeno, na terceira; ou seja estávamos perto do palco! Mas a resposta do sem-noção, como se não fosse nada, era que a mãe estava no hospital e que ele precisava atender às ligações, ao que eu respondi que se a mãe dele estava no hospital ele não deveria estar ali!!! Foi a primeira experiência dos tempos que se tornariam duros e complicados. Tempos esses que estamos vivendo agora.
Hoje, véspera de Natal, tive a sorte de chegar à rodoviária sem passagem comprada e embarcar meia hora depois. Seria o prenúncio de uma viagem tranquila se, minutos depois de o ônibus partir, eu não começasse a ouvir em alto e bom som o que parecia ser uma televisão ligada. O som de uma televisão de celular. Aguentei meia hora. Achando que eram as duas meninas à minha frente, pois o som estava próximo, cometi a gafe de me dirigir a elas; mas era a anta da poltrona da frente. Mais uma vez, provavelmente vermelha de raiva, tive de fazer valer o meu direito, que deveria ser respeitado sem se precisar exigir isso. Voltei para dormir.
Só que a vida nem sempre é fácil, caríssimos, e meu carma de ter de me tornar uma pessoa "chata" e "implicante" não terminou aí. Quase no fim da viagem, um "cidadão" - se posso aplicar esta palavra a esse tipo de gente - resolve ouvir música evangélica no celular! Ou melhor, resolve ouvir e compartilhar. Como estava chegando, resolvi que poderia aguentar aquilo, mas falei com a pessoa a meu lado, que compartilhava de todo o drama, que as pessoas estavam perdendo a noção. Falei alto, para ver se ele ouvia.  E deve ter ouvido, porque ele se virou para mim com um amplo sorriso, posso dizer que bem bonito, como se eu estivesse elogiando, o que me faz pensar que além de sem-noções essas pessoas não diferenciam mais uma crítica construtiva de uma altamente destrutiva como foi a minha. Foi a minha deixa. Perguntei-lhe se ele não tinha um fone, porque o gosto musical dele não era o de todo mundo. Ele me retrucou com mil desculpas, inclusive quando desci do ônibus. Não era má gente. Só é do tipo de pessoa que não percebe que não se trata do volume, ou do tipo de música, mas do direito de o outro não ser invadido por algo de que não deseja compartilhar naquele momento.
Fico pensando que professores de Sociologia estão sendo admitidos em massa nas escolas. Esses professores - sofredores, ouso dizer - vão precisar começar seu ensino pelo mais básico: a diferença entre público e privado. Essa geração nova, criada com pais tão invasivos, simplesmente não vai saber que o espaço público, por ser público, não comporta ser utilizado por todos como se queira. A liberdade de ação, até certo ponto, claro, está no privado. Imagina se cada um quiser ouvir um tipo de som, ou usar a rua como se queira. Que está acontecendo? É a novidade dos eletrônicos que está deixando nosso povo, tão alijado do progresso durante tanto tempo, sem noção? Ou é a falta de educação, no sentido amplo da palavra, que impera? Sinceramente, não sei. O homem da Sala Cecília Meireles não era do "povo", não era desprovido de "educação formal", mas não conseguia enxergar um palmo na frente do próprio nariz. O rapaz do ônibus tinha um sorriso franco, aberto, não sabia, mesmo, o que estava fazendo. Mas isso me preocupa muito. Essa invasão do espaço do outro está além do uso indevido de celulares. Está na apropriação indevida do que não é seu, nos desvios de verba. Está no mau uso das redes sociais, na autoexposição a um nível insuportável.
Não sei se isso acontece só por aqui ou se está espalhado pelo mundo. Só sei que é aqui que eu moro, e é por isso que me incomodo tanto com o modo como as coisas estão por aqui.
A única coisa que queria é que as pessoas olhassem um pouquinho além dos próprios narizes e umbigos. Talvez seja a criação em casa, talvez... Aí, neste caso, só nos resta chorar, porque crianças são criadas em famílias, e se o que está vindo dessas famílias é isso, podemos esperar um futuro de convivência no espaço público bem deteriorada.
E assim começa meu Natal e termina meu ano: comigo lutando pelo meu espaço. Ainda bem que sou atenta.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Sentidos? Para quê?

Metrô Rio, por volta de 10h30. O trem para na estação Botafogo e, pela porta aberta, chega um forte cheiro de queimado, que sou a primeira a sentir. Não sei por quê, mas as pessoas não prestam muita atenção, ao que parece, a odores familiares em lugares em que eles não deveriam estar. Do outro lado da plataforma, o trem, que deveria estar indo na outra direção, parado. É óbvio que o forte odor de borracha queimada vinha dali. Logo pensei: "E se o problema tivesse acontecido dentro do túnel?" Mas a atenção se volta para as várias pessoas com seus celulares tirando fotos ou filmando. O pensamento agora era: "O Twitter e o Facebook estão sendo atualizados..."
Resumo: não preste atenção ao que seu nariz sente, nem ao que seus olhos veem. Preste atenção ao que você vê pelas telas do seu celular-câmera. Isso é, ou parece ser, o mais importante.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Voltei...

Voltei porque a vida é sempre cheia de surpresas, porque as surpresas despertam o olhar, porque o olhar se materializa pelas fotografias, mas também pela escrita.
Assim, este é o espaço do olhar, daquele que pousa displicentemente sobre uma pessoa, um lugar, uma circunstância, mas também daquele que guarda uma intenção e um questionamento. Porque cada olhar compreende pelo menos um minuto de silêncio sobre aquilo que foi visto, mas não foi dito.
Espero que meus silêncios possam ser percebidos neste espaço.