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domingo, 22 de setembro de 2013

Da arte de escrever... cartas

Tenho tido muita vontade de escrever... cartas. Isso mesmo. Daquelas em papel fino, do qual mesmo cinco folhas não tornam um envelope cheio. Daquelas que são escritas numa tarde sonolenta de domingo, ou no momento obscuro da noite, em que a vontade de dizer algo não pode mais ser ignorada.
Acho que tenho vontade de escrever cartas porque elas levam um tempo. Tempo para ser escritas, para ser enviadas (e aí você pode realmente decidir se quer enviá-las ou não), para chegar ao destino. E aí tem mais aquele tempo de saber se o destinatário leu, gostou, e aí novamente o tempo de resposta.
Numa carta, dava para perceber a mudança da letra em um momento ou outro: a redondinha e bem escrita do início, quando ainda estamos começando, e a mais largada do fim, quando já estamos cansados e o punho começa a doer. Também é possível desenhar nas margens: coraçõezinhos, solzinhos, nuvenzinhas. E podemos perfumar o papel, caso queiramos que vá junto com nossa letra algo mais: o nosso cheiro.
Adoro os meios modernos de comunicação. Adoro receber e-mails, SMS de bons-dias, mensagens no WhatsApp, recados nas redes sociais... Mas a carta guardava algo de mais pessoal, porque guardava o tempo, o aconchego, a suspensão... tudo isso que é muito humano.
Há diversos filmes que falam sobre as relações por correspondência, amorosas ou não. Um deles é A casa do lago, em que um homem e uma mulher, separados no tempo de dois anos, conseguem se corresponder e se conhecer. Em uma das cenas, ela está sentada lhe escrevendo quando sabe da morte do pai dele. Pela impossibilidade do telefonema, o texto se transforma num carinho feito pela escrita, em que ela diz que gostaria de estar ali, com ele, e olhar o lago da casa que seu pai havia construído para sua mãe. Dá para sentir o abraço que se transforma num refúgio de segurança, dá para sentir o apoio, porque há calor.


A outra cena se passa em Orgulho e preconceito, em que a personagem principal está sentada junto à janela a escrever. Ela olha pelo vidro, respira, pega a pena e, com traços bem delineados e vagarosamente, começa a carta endereçada à irmã: "Dear Jane". Sente-se o tempo da escrita, do pensar, do respirar. Há carinho, pausa, há momento de reflexão. Tudo isso numa manhã preguiçosa, em que não há nada mais a fazer a não ser falar com quem se ama.


As cartas guardavam o inusitado, a espera da esperança, a ansiedade. Elas tinham vida, porque havia ali um pedacinho daquele que escrevera.
Quero voltar a escrever cartas. Não porque escrever e-mails seja ruim, mas porque preciso desse tempo da pausa da caneta sobre o papel, do cuidado em dizer algo, porque não há como apagar.
Quero voltar a escrever cartas, e talvez elas levem consigo desenhos nas margens e um suave perfume nas folhas. Para que se lembrem de mim.

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