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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Lágrimas e luz

Naquele dia, ela chorava. Não um choro forte e abundante, mas lágrimas silenciosas que lhe desciam a face e iam se acomodar nas dobras do pescoço. Lágrimas que desciam quentes e que logo perdiam o calor em contato com o ar, e talvez com seu coração machucado. Estava cansada. Cansada dos tropeços nos caminhos, das idas e vindas, das curvas erradas que fazia. Queria desistir. Mas como? Não havia opção. A vida lhe havia sido dada sem que tivesse pedido, mas não podia ser deixada para trás sem um grande ônus: o de perder as coisas boas que ela trazia.
Mas ela chorava mesmo assim. Pelos amigos que haviam partido, pelos amores não vividos, ou vividos pela metade, pelos sonhos desfeitos, pelos cortes profundos na alma que poucos, muito poucos, enxergavam. Porque seu sorriso era sempre radiante, luminoso. E ela só se permitia chorar em frente ao espelho. O único outro que conhecia sua dor tão profunda era ela mesma.
Mas desta vez ela chorava ao ar livre. Cansada do seu espelho, que só refletia o que ela já conhecia, foi para o meio das árvores, escolheu uma e sentou-se recostada ao seu tronco. E chorou. Feito criança. Ou feito adulto, cujo choro guarda seiva muito mais encorpada que a de uma criança, pois alimentada pelas agruras da vida.
E foi assim, chorando os amigos, os amores, os caminhos errados, a vida cansativa e permanente, que as lágrimas foram diminuindo, tanto em quantidade como em espessura. Foram se tornando pouco a pouco pequenos fachos quase sem sabor, até que viraram fachos de luz. E ela então passou a chorar luminosidade. Seu rosto ficou claro como o sol, e como o sol se aqueceu, e então o frio da alma foi substituído pelo calor da vida. Tudo o que havia de dor, de pesadume, de tristeza e de mágoa se transmutou em luz, alegria e paz.
Sozinha, sem seu espelho, somente em contato com o universo, ela renascia.

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